A saga do bode

Devido a inúmeros e incessantes pedidos irei relatar a história do bode. Uma história com final feliz. Se viveu feliz para sempre (ou não) isso já é outra história…

Mas o fato é que saímos para fazer um passeio na praia de Morro Branco/CE e lá fizemos um passeio de buggy, que por sinal é show de bola. São três praias percorridas pela beira do mar e o passeio termina em uma lagoa, no meio das dunas. A vista é legal, além do mar tem as dunas coloridas. É uma areia dura, quase como pedra, que vai se esfarelando e reza a lenda que o vento, ao passar dos anos, causou e ainda causa toda aquela erosão, criando tipo uns cânions. É um passeio interessante.

Voltando à narrativa, o passeio iniciou tranquilo, o céu parecia ser gremista, de tão azul, sol brilhando forte e amarelo, vento no rosto. Perfeito. Lá pelas tantas avistamos um bode, cercado por dois cuscos. Sabe aqueles cães pastores, que ficam cuidando do rebanho de ovelhas? Num primeiro momento foi isso que pareceu, apesar da aparência estrupiada dos cuscos.

Mas infelizmente não era esse o caso, eles estavam atacando o pobre animal e confesso que isso doeu no coração. E pior, tinhas dois imbecis que estavam atiçando os cuscos, instigando o ataque. Não tinha como ficar alheio numa situação dessas, é algo que está em mim, não aceito qualquer tipo de maldade contra os animais, seja ele cão, formiga ou um bode.

Então espantamos os cuscos do jeito que deu e o bode, coitado, fugiu em direção ao mar, com os cuscos em seu encalço. Imagino a dor que o bodezinho sentiu quando entrou na água, não só pelas mordidas que havia levado, mas por ter se perdido de sua família e estar ali, acuado, perdido e praticamente sem esperanças. E foi nessa hora que pegamos ele, colocamos no buggy saímos procurar seu rebanho por entre as dunas. E não é que encontramos?! Chegamos perto e soltamos o bichinho, que saiu correndo, saltitante, feliz da vida e, com certeza, agradecido.

E nós seguimos com o passeio, com o coração aliviado e a sensação do dever cumprido.

“Para suportar sua própria história,
cada um lhe acrescenta um pouco de lenda.”
Marcel Jouhandeau.

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Amizade perde a validade?

“Graças à amizade estão
presentes os ausentes
os pobres são ricos,
os covardes ficam valentes,
e o que é mais incrível,
os mortos vivem.”

CÍCERO

Amizade perde a validade?  Existe um ponto exato onde amigos passam a ser, sei lá, meros conhecidos, colegas ou ex-amigos?

Eu acredito que amigos são para a vida toda e tenho minhas teorias e crenças sobre o assunto. Uma delas é que a amizade não se perde com o passar dos anos e a distância, mas se transforma nos mais diversos tipos e formas, como o retrato de Dorian Gray. Sabe aquela música do Lulu Santos: “Nada do que foi será/ De novo do jeito Que já foi um dia Tudo passa /Tudo sempre passará… tudo muda o tempo todo no mundo…”?! Assim é a amizade. Mas não é a amizade que muda, são as pessoas. Sim, meu amigo, as pessoas mudam: eu mudo, tu mudas, Dorian Gray muda e isso é inevitável. À medida que a porcentagem de nossa vida evolui, mudam os conceitos, crenças e necessidades. E com isso, mudam as amizades. Talvez não seja bem isso que quero dizer, não é que a amizade muda, mas às vezes aquela identificação que tínhamos antes talvez não seja mais a mesma e uma das pessoas (ou ambas) acabe olhando e seguindo em outra direção e aquela identificação toda acaba se perdendo pela estrada.

Mas mesmo assim continuo achando que a amizade prevalece, apesar da distância ou ausência, mesmo que já não haja mais toda aquela intimidade e cumplicidade. Cada amigo que passou em minha vida teve sua importância e de alguma forma contribuiu para aquilo que sou hoje (“… somos o que há de melhor, somos o que dá pra fazer…” HUMBERTO GESSINGER).

Um exemplo que ilustra muito bem o que quero dizer ocorreu quando morava em Fortaleza. Um belo dia (“parece que foi ontem, parece que chovia”) meu amigo Tibúrcio bateu à porta para tomar um chimarrão e contar uns causos. Bah fazia anos e anos que não nos víamos. Eu saí de Ijuí em 1994 e o Karlinski pouco tempo depois (casou e foi embora, não necessariamente nesta mesma ordem) e depois disso foi um ou dois encontros casuais na “terrinha” e nada más. E, apesar do tempo que passou e dos rumos diferentes que cada um seguiu, algo meio que ficou parado no tempo. E foi assim meu encontro com o Marcos, no início talvez um pouco tenso, com um pouco de cerimônia, afinal de contas, já haviam se passado anos da última vez que conversamos. E agora eu estava casado e ele também, sem um conhecer a Frida do outro. Mas como sempre, ou quase sempre, a amizade falou mais alto e passamos bons momentos enquanto ele esteve por lá. Bons momentos guardados na memória e nas fotografias.

E é isso, amigos são como tatuagens, que podem estar desbotadas, quase apagadas, mas continuam lá, mesmo que não tenham mais o brilho de outrora. Isso é bom, mas é ruim, mas é a vida…

Vinícius disse: “que seja eterno enquanto dure…” e Pablo Sant’Ana rebateu: “o amor e a amizade não são eternos enquanto duram, são eternos, mesmo depois que acabam.”

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Gambiarras

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“… a máscara e o rosto trocam de lugar…”

Pouca Vogal

Sábado, 08:50, ao som de Nei Lisboa. Ontem fui ver o show do Pouca Vogal aqui em Joinville. Sobrevivi. “Ah, mas o que tem demais num show?” Na verdade não tem nada demais. Tranquilo. Mas eu já estava nos ‘pés da égua’, antes mesmo de iniciar.

Três dias antes havia dormido tri mal, não lembro por que, mas não dormi direito. Na noite seguinte, acordei no meio de um sonho – sonhava que estava fazendo um código em Java e estava dando erro e eu no auge do sonho tentava, em vão, resolver o problema. Acordei pensando no tal código.

If (acordar durante a noite com vontade de mijar) then {
ir ao banheiro tirar a água do joelho
}

Else {
corre o risco de fazer xixi na cama
}

Tirei a água do joelho, até porque se entrasse no Else a coisa iria ficar preta e molhada. Voltei pra cama e quem disse que eu conseguia dormir?! Lógico que fiquei pensando no tal código e em como resolvê-lo. Mas como se faz para resolver um problema que não existe? É, às vezes essa idéia de que programador vive meio fora da casinha parece fazer sentido. As 06:30 o despertador berrou e eu mal tinha pegado no sono. Levantei me arrastando, meio mal até e fui trabalhar. À noite tive aula de Java e prova de Estatística. F****!

E ontem foi o show! Já saí de casa cansado, com sono e saudades do meu travesseiro. Mas já havia comprado o ingresso e, afinal de contas, era show do Humberto. Coloquei um abrigo azul, a camisa do Grêmio e caí na noite – na noite, não na gandaia. O show de abertura estava marcado para as 23h, então achei tranqüilo. Pura esperança e inocência pensar que o show iria começar no horário. O Humberto e o Duca subiram ao palco já passava da uma e eu lá, em pé, todo dolorido, cansado, com fome e ainda pensando no travesseiro.

Mas o show foi legal. Adorei! O Humberto continua o mesmo de sempre, apesar de estar diferente. Cantei junto às músicas até onde a gogó agüentou e depois fiquei curtindo na boa o resto do show. Legal que eu não era o único titio na platéia, tinha muita gente da minha idade e até mais velhas. Na saída fui comer um cachorro quente numa banquinha que tinha em frente. Ufa, sentei e comi com uma vontade nunca vista antes. Foi o melhor cachorro quente que comi em anos. Lógico, que os de Campo Bom seguem imbatíveis, mas isso é outra história.

Na saída, tinha dois caras com camisa e bandeira do Inter e quando a gente se viu, começamos a rir. Uma rivalidade saudável, que lembrou as minhas idas ao estádio.

E agora estou aqui, tomando meu chimarrão e me preparando psicologicamente para resolver meus problemas reais de Java.

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… e viajando com loucos pensamentos…

Já te aconteceu de acordar durante a noite e, por causa de um sonho ou insônia, ficar pensando em coisas estranhas, meio sem sentido ou então ficar viajando nas tais teorias da conspiração?

Isso me aconteceu outro dia. Acordei de madrugada, fui tirar a água do joelho e quando deitei na cama fiquei filosofando comigo mesmo. Percebi que há muitas semelhanças entre nossa vida e a programação. Tá, por ser um programador tupiniquim minha opinião é meio suspeita, mas não é que tudo acaba fazendo sentido?

Tudo em nossa vida acaba girando em torno de tomadas de decisão ou então estruturas de repetição. Tudo que fazemos pode muito bem virar um algoritmo. O próprio fato de levantar (ou não) para ir ao banheiro é um exemplo bem simples:

while (o relógio não despertar à dormir) {
IF (acordar durante a noite com vontade de mijar) then
ir ao banheiro tirar a água do joelho
Else
corre o risco de fazer xixi na cama
}

Um colega de trabalho escreveu que “código é poesia” e não é que ele tem  certa razão? Depois que tu começa a programar, tua visão do mundo acaba mudando. Muita gente acha que programador é tudo meio louco, que vive fora da casinha, ou melhor, trancado na casinha, grudado no computador.

“Pode ser que ninguém me compreenda quando digo que sou visionário….”

Mas voltando aos loucos pensamentos, pois os meus não pararam por aí. Lembra daqueles filmes de ficção (?) onde as máquinas (robôs) tentam dominar o mundo? Então, imagina se isso realmente aconteceu e o fato de eu estar vendo código em tudo e, às vezes, até pensar em binário, não é um reflexo disso e essas minhas filosofias baratas são flashes do passado e, na verdade, estamos todos dominados e servindo de escravos?

Céus! Dessa vez me superei…

… e viajando com loucos pensamentos…

Já te aconteceu de acordar durante a noite e, por causa de um sonho ou insônia, ficar pensando em coisas estranhas, meio sem sentido ou então ficar viajando nas tais teorias da conspiração?

Isso me aconteceu outro dia. Acordei de madrugada, fui tirar a água do joelho e quando deitei na cama fiquei filosofando comigo mesmo. Percebi que há muitas semelhanças entre nossa vida e a programação. Tá, por ser um programador tupiniquim minha opinião é meio suspeita, mas não é que tudo acaba fazendo sentido?

Tudo em nossa vida acaba girando em torno de tomadas de decisão ou então estruturas de repetição. Tudo que fazemos pode muito bem virar um algoritmo. O próprio fato de levantar (ou não) para ir ao banheiro é um exemplo bem simples:

while (o relógio não despertar à
dormir) { IF (acordar durante a noite com vontade de mijar) then
ir ao banheiro tirar a água do joelho
Else
corre o risco de fazer xixi na cama
}

Um colega de trabalho escreveu que “código é poesia” e não é que ele tem  certa razão? Depois que tu começa a programar tua visão do mundo acaba mudando. Muita gente acha que programador é tudo meio louco, que vive fora da casinha, ou melhor, trancado na casinha, grudado no computador.

“Pode ser que ninguém me compreenda quando digo que sou visionário….”

Mas voltando aos loucos pensamentos, pois os meus não pararam por aí. Lembra daqueles filmes de ficção (?) onde as máquinas (robôs) tentam dominar o mundo? Então, imagina se isso realmente aconteceu e o fato de eu estar vendo código em tudo e, às vezes, até pensar em binário, não é um reflexo disso e essas minhas filosofias baratas são flashes do passado e, na verdade, estamos todos dominados e servindo de escravos?

Céus! Dessa vez me superei…

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“O tempo passou e me formei em solidão”

Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite. Ninguém avisava nada, o costume era chegar de paraquedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.

– Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre. E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.

– Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!

A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro… casa singela e acolhedora. A nossa também era assim. Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha – geralmente uma das filhas – e dizia:

– Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa. Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite… tudo sobre a mesa. Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também. Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança… Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam…. era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade…

Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa.. A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, t ambém ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos… até que sumissem no horizonte da noite.

O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail… Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:

– Vamos marcar uma saída!… – ninguém quer entrar mais.

Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores. Casas trancadas.. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos do leite…

Que saudade do compadre e da comadre!

José Antônio Oliveira de Resende
Professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras, Artes e Cultura, da Universidade Federal de São João del-Rei.

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Com os pelinhos na cerca

Ontem, quando fui olhar a hora no celular, pensei: “8:32… putz, a bateria tá terminando… não posso esquecer de carregar essa coisa quando chegar em casa.” Cheguei em casa, larguei minhas coisas no “escritório”, dei um beijo na patroa, troquei de roupa, fiz um café bem quente e fui pra cama ouvir o jogo do Grêmio. Findado o “espetáculo”, fiz os últimos preparativos para mais uma noite tranqüila de sono e apaguei.

Levantei de madrugada para ir tirar a água do joelho e, meio sonolento, tentei imaginar que horas eram: “ah, ainda ta escuro, dá para dormir mais um pouco”. Virei para o lado e continuei babando no travesseiro.

Acordei com o ronrom do Iron na minha orelha (gatinho mais novo). Levei a mão ao bidê para pegar o celular e aí bateu o pânico. O quarto já estava claro e lembrei que tinha que carregar o “cidadão”. Fui direto para a cozinha ver a hora no microondas: 6:55. Ufa. Alívio. Ainda deu tempo para um café minguado…

Foi a mesma sensação que senti quando o Grêmio marcou o terceiro gol no jogo, já no apagar das luzes.

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Não se renda às evidências, não se prenda à primeira impressão…

“Os homens julgam mais com a vista do que com o tato, eis que ver é dado a todos, sentir a poucos. Todos vêem o que parece ser, poucos sentem o que és.”

MAQUIAVEL

Outro dia saí mais cedo para o trabalho e estavam passando dois transeuntes, sendo que um deles carregava uma torquês (para os desavisados é parecido com um alicate, porém, maior) e logo bateu aquela preocupação e a primeira coisa que veio à cabeça foi que ambos eram “negociantes de produtos alheios”, pensei até em chamar a polícia para dar uma averiguada. Segui meu rumo e dando umas olhadas para trás. No dia seguinte saí mais cedo novamente e quem eu vejo na rua? As mesmas duas figurinhas, com seus instrumentos na mão. Dei uma observada melhor e já não achei mais eles com jeito de “negociantes”. E nos dias que se seguiram foi a mesma coisa, os dois caminhando tranquilamente rumo ao trabalho deles. Deduzi que trabalham na construção civil e são pessoas de bem. Mas a primeira impressão foi bem diferente.

Quantas vezes nos apegamos às primeiras impressões, julgando ou definindo características a pessoas que mal conhecemos? E na maioria das vezes nem é bem assim, muito pelo contrário, perdemos a oportunidade de talvez conhecer pessoas extraordinárias, mas que passaram batidas pelo simples fato de termos criado um pré-conceito. Infelizmente isso acontece com muito mais frequência que imaginamos e raras são as vezes que percebemos isso. Já imaginou se, no alto do meu medo (ou seria ignorância?), eu tivesse chamado a polícia? Provavelmente teriam tirado as mesmas conclusões e todo mundo sabe o que acontece nessas situações.

A partir de agora vou tentar ver o mundo e as pessoas de uma forma diferente, tentar não julgar ou tirar conclusões sobre algo que desconheço, ou tenho pouco conhecimento. Se a primeira impressão é a que fica, vou tentar não ser tão negativo assim com pessoas que tendem a ser “diferentes” ou que estão alheios aos meus conceitos.

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Somos o que há de melhor, somos o que dá pra fazer…

Cara, e o Mutly? O Mutly era sinistro, muito sinistro. Gente boa ele, mas, como todo mundo, tinha seus defeitos. Um deles era não saber perder ou ficar para trás. A minha impressão, na época, era que a vida dele era uma eterna competição. Não sei se acho isso legal, mas enfim…

Conheci o cidadão no 2º ano e confesso que me aproximei dele por interesse. Tá, é feio, eu sei, mas aconteceu, fazer o que? Ele conhecia uma pessoa que eu queria conhecer também, e, no auge da minha timidez, vi ali uma oportunidade. Bom, tivemos uma amizade legal no início, um ia na casa do outro, às vezes jogávamos futebol, war, botão. Mas esse negócio de competição começou a me incomodar. No futebol, quando ele estava perdendo, apelava à violência ou então começava a errar cada vez mais e ficava brabo, e a gente ria e ele mais brabo ainda… E era sempre assim. Lembro de uma prova de português (nunca fui bem nessa matéria, sempre passava com os pelinhos na cerca) e, nessa prova, fiz a redação, interpretação de texto e só. Deixei toda parte da gramática em branco. E o Mutly fez toda prova, não deixou nada em branco. E não é que minha nota foi mais alta que a dele?! Ah o cara pirou. Enlouqueceu. Ficou vermelho de raiva. Roxo até. A boca espumava. “- Mas como?”, dizia ele. Arrancou minha prova das mãos e foi reclamar à professora. Fosse o Gustavo estaria dizendo “injuuuuuuusto!” hehehe.

Lembrei de outra agora: uma excursão às Ruinas de São Miguel que foi marcada para um sábado, mas acabou coincidindo com uma aula de recuperação. A professora daquela disciplina falou que era obrigada a comparecer na escola, porém, se não aparecesse nenhum aluno, não poderia contar como aula. Uma pessoa foi e quis aula… Quem? Quem? Ele mesmo, o Mutly.

E por mais que a gente pensasse que ele tinha atingido seu ápice, ele conseguia a superação, afinal de contas, a vida era uma competição. E isso ocorreu em um provão de final de bimestre. Tinha prova de física, com o professor Ary Zwirtes (tinha cara de mau, mas era um bom professor) e eu não sabia nada daquelas fórmulas malucas. Nem o Mutly, Jeferson, Ronaldo… e então chegamos mais cedo na sala e cada um colou as benditas fórmulas em sua classe. Aí chegou o professor e jogou um balde de água fria: “- Pessoal, a prova será no salão, juntamente com as outras duas turmas”. Não deu outra, cada um pegou sua classe e levou para o salão, que ficava no segundo piso. Até aí tudo bem, o professor começou a distribuir a prova, peguei a minha e comecei a passar as fórmulas da classe para a folha. Quando o professor chegou na classe do Mutly viu a cola que ele tinha feito e mandou ele apagar. Gargalhada geral. O Mutly olhou para a gente e ficou mais envergonhado ainda e todo mundo continuava rindo, enquanto ele apagava a classe. Até que ele não se aguentou e falou: “- Professor, o Daniel, Jeferson e Ronaldo também têm cola na classe”. Silêncio. O professor Ary vai de classe em classe e manda cada um apagar também e, quando chegou na minha, viu que eu já tinha começado Fez uma marca na minha prova e mandou eu trocar de classe. Me f***. Após a prova nos reunimos ao redor de um banco que havia no pátio da escola. A nossa turma era tri unida, estávamos sempre juntos, sempre naquele banco. E naquela noite todos estavam revoltados com a atitude do Mutly. Lógico que ele teria que levar o troco, isso não poderia passar impune. E não passou. Combinamos que a apartir daquela hora ele seria ignorado, ninguém mais falaria com ele. E assim foi quando o cidadão chegou. Parecia um fantasma, ele falava e ninguém respondia. Nem olhávamos para ele. Na outra noite, o Mutly adentrou na sala e ninguém deu bola. Sentou na classe dele e tentou conversar. Nada. Nem um pio. Era como se ele ele não existisse. Um a um foram levantando e sentando em outro lugar, deixando o Mutly sozinho, isolado. Confesso que me senti mal com isso. Tá certo que ele merecia, mas foi cruel. E foram várias noites assim, com o Mutly isolado da turma. Depois de um tempo voltamos a nos falar e tudo voltou (mais ou menos) ao normal.

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Matanza – Ela Roubou Meu Caminhão

Matanza é uma banda do Rio de Janeiro e o som é uma mistura de rock com country e sabe-se lá mais o que. Ainda não ouvi a discografia deles, mas gostei dessa música..

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